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Os nós dos dedos estão lacerados pelas amarras que me cegam . As minhas roupas são amarras. Despi-as.Os cabelos desalinhados cobrem-me as faces lívidas. Os pés descalços e empoeirados percorrem o soalho gélido. Dos lábios gotejam as remessas de um futuro desvanecido. Pelo peito esboçam-se riachos salgados. Da pele brotam os cacos de uma alma arremessada. No ventre jazem as borboletas, sôfregas, lânguidas.
Se a dor não é eterna, porque sucumbo diante do meu reflexo? Os meus dedos estão tão distantes do meu reflexo. Sou o exílio desta pobre emenda. Seduzida pelo delinear breve desta jaula que me acomoda. Os olhares fixos no colo que se esboça como um violino e me arrasta na minha efémera feminilidade. A poeira translucida que poisa nos trilhos que se cravejaram na minha pele, sem permissão. Marcas do tempo.
Abre-se a janela. Locomotiva lúgubre que me leva de arrasto nesta incógnita.
A chuva lava-me os pensamentos. O desejo submerso no esquecimento. O vagar com que a morte me devora. A inquietude das palavras soltas.
O peito arde. A ferida é breve. O esquecimento embala. A memória é submissa.
Submerge-me neste estado de dormente redenção.
Por favor.